Há muito se discute entre os arquitetos e urbanistas a questão do espaço público x privado. Elogiamos os projetos privados que abraçam o espaço público e que devolvem para a comunidade uma área de convivência e repetimos sobre a importância da função social daquele espaço. Viajamos para o exterior e trazemos uma bagagem cultural que nos faz divagar que, em nossos projetos, poderíamos alcançar a qualidade urbana que vemos lá fora. Compramos livros e revistas internacionais e nacionais com exemplos magníficos do uso desses espaços.
Aí chegamos em São Paulo. Rio de janeiro. Fortaleza. E a discussão é outra…
No final do mês passado o jornal Estado de S. Paulo (Estadão) divulgou a polêmica reportagem “É preciso preservar o Masp“* defendendo que o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) deveria ser fechado, sendo esse o seu “triste destino”. A ideia é defendida alegando-se que grupo de manifestantes julgam-se no direito de ocupar o espaço para manifestar-se, que o local virou reunião de dependentes químicos e traficantes e que virou área de abrigo para moradores de rua (que segundo o jornal se julgam donos do espaço).
A reportagem ainda indica que o curador do Masp, Teixeira Coelho, pleiteou junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que o Museu seja cercado, mas que tal pleito foi rejeitado pelo Iphan, já que o projeto arquitetônico original do museu – que prevê acesso irrestrito ao vão livre – deve ser mantido.
O jornal ainda finaliza dizendo que “em qualquer museu da Europa e dos Estados Unidos o patrimônio cultural é preservado a todo custo e esse é o bom exemplo que temos de seguir”
Com o início do post desse blog, já é possível imaginar a polêmica, certo? Enquanto o editorial afirma que a preservação do patrimônio é um exemplo internacional a ser seguido, também sabemos que internacionalmente esses usos (público e privado) interagem e geram qualidade urbana onde são aplicados. Além disso, veremos adiante que o vão livre do Masp também é parte do nosso patrimônio cultural…
Diante da polêmica, o site Catraca Livre expôs abertamente sua opinião na semana passada, em resposta à discussão iniciada pelo jornal, com a notícia “No meu vão ninguém mete a mão”*. Ressalta-se que justo na época em que São Paulo começa a rever seus conceitos de utilização de espaços públicos (revitalizando praças, criando parques ou levantando prédios), os paulistanos encontram-se nessa discussão acerca do fechamento “do mais famoso e democrático espaço público da cidade”
O site nos lembra que na época da construção do museu, o doador do terreno do MASP à Prefeitura exigiu que fosse preservada a vista para o Centro e para a Serra da Cantareira. E… foi por isso que a arquiteta Lina Bo Bardi planejou o museu com uma edificação subterrânea e outra suspensa, o que originou o vão. Espaço esse que a Lina ressaltou “Não procurei a beleza. Procurei liberdade”.
*Montagem retirada da página do Facebook “arquitetura do futuro”
E como já era de se esperar, outras manifestações contrárias surgiram. O paulista Alessandro Sbampato criou uma página no facebook com o nome “No meu vão ninguém a mão“* onde em entrevista para o Catraca Livre* ele questiona a responsabilidade e a veracidade das informações oferecidas pelo editorial do Estadão, já que de acordo com funcionários do Iphan que comentaram em sua página, os pedidos de cercamento do vão na realidade não existiram.
A dicotomia “segurança” e “uso público” é uma discussão moderna, por isso abrimos esse espaço também para saber: Qual a sua opinião sobre esse assunto?
*Links para os sites citados:
–É preciso preservar o MASP (Estado de S. Paulo)
–No meu vão ninguém mete a mão (Catraca Livre)
-Página “No meu vão ninguém mete a mão” (Facebook)